Apesar do sol, hoje chove. Exatamente como naquele dia em que nos reunimos para tentar entender o que aconteceu e como estávamos dispostos a dar mais uma chance ao que quer que fosse que pudéssemos construir juntos.
Hoje chove e eu só consigo pensar que a chuva em dias ensolarados sempre irá me trazer a memória agridoce da sua ausência. E, pelas chuvas de verão serem um fenômeno anual, talvez todos os anos eu acabe me molhando novamente com as minhas próprias lágrimas.
E é difícil porque eu tentei de todo jeito seguir em frente, mesmo tendo a certeza de que, de certa forma, não existe seguir em frente de uma ausência que se faz presente a todo instante.
Conviver com a sua falta foi a escolha que eu fiz e que preciso honrar, porque a sua presença jamais me permitiria olhar o céu e me sentir abraçada pelo universo como naquela noite. A sua presença jamais me permitiria falar, sentir, chorar, sorrir e descansar. Eu só posso existir quando você não está.
E é por isso que, hoje, me permito escrever, me permito voltar para mim mesma e voltar a sentir a sua falta, pois estas são as únicas verdades. São as únicas coisas que me restam e as únicas que importam.
Desde aquela noite em que o céu me engoliu e a água do mar chegava cada vez mais perto, tenho pensado no quão vasto é o universo e o quanto tudo é constituído justamente pela falta. Desde então, tenho refletido sobre Bigger than the Whole Sky (você me conhece, você sabe que eu teria que citá-la em algum momento) e sobre como nada é verdadeiramente maior do que o céu inteiro.
Ou, ao menos, não deveria ser.
Porque o céu é só uma porção visível do que é o espaço e o vácuo e a distância entre cada estrela e planeta. O céu é a falta na sua dimensão mais presente e palpável. Talvez por isso eu não consiga parar de olhar para ele nos últimos tempos. E talvez por isso eu precise continuar olhando, porque é justamente nessa falta que eu consigo um espaço para existir.
E sempre que chover em um dia ensolarado, eu serei lembrada de tudo que não foi, tudo que não teve a oportunidade de ser, e vai doer porque terei que lidar com o fato de que pela primeira vez na vida eu quis que fosse.
Apesar da chuva, hoje faz sol. E o céu segue sendo essa dança complexa entre matéria e vácuo, e eu sigo sendo essa coisa que se constrói no vazio, e talvez eu esteja pronta para admitir que, sim, você foi maior do que o céu inteiro, e continuará sendo enquanto eu viver.
Sentir a sua falta pelo resto dos meus dias é o preço que pago para continuar existindo. E eu escolho continuar.